terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Viaduto Paulo de Frontin - Vera Cruz - Miguel Pereira - RJ

  Eis hoje que trago-lhes um post que possui um certo valor especial para mim, foi uma das expedições mais legais e ao mesmo tempo mais perigosas que fiz, e logo vocês saberão o porque com o desnovelar da história...
  Estamos no município de Miguel Pereira, mais precisamente no distrito de Vera Cruz que fica a alguns quilômetros do centro do município. Chegar lá  não é uma tarefa fácil, o viaduto encontra-se em uma região de vale e em um nível bem abaixo da região urbana, só conhecendo a região ou pedindo informação é que foi possível chegar lá. Meu objetivo principal antes nem era chegar no viaduto, e sim em um hotel que fica nos arredores, depois de conhecer o caminho tinha que ir conhecer esta ponte de arquitetura sem igual. Vamos agora a parte geográfica, onde fica exatamente este lugar? É ruim de chegar mas não precisa levar kit de Sobrevivência ou coisa do tipo, garanto-lhes. 

(Clique nas Imagens para melhor visualização)

Mapa  da região de Miguel Pereira, em preto o leito original da Linha Auxilar e suas curvas beirando as encostas dos morros, detalhe a direita para o localização do Viaduto

Visão aproximada do Viaduto, as imagens de satélite são antigas, o que não ajuda na resolução.
  Através da primeira imagem, nota-se a real distância da área urbana até o Viaduto, calculo que seja algo em torno de 20 a 30 Km de distância percorrendo estradas de cascalho, barro e as vezes asfalto, por ser um terreno arenoso desabamentos são constantes durante as chuvas, dificultando o acesso, mas nada impossível. 

  Após encontrar uma trilha em direção a um morro e entrar no matagal que a cerca as extremidades da ponte, eis que a a linha férrea abandonada surge e todo o seu leito sobre a estrutura metálica centenária totalmente preservado, claro, na medida do possível, desde 1996 não passam mais trens ou qualquer equipamento ferroviário naquela linha. 

  O viaduto ferroviário Paulo de Frontin, é uma construção de arquitetura e engenharia Belga, possui 82 metros de largura, contando das extremidades fincadas nos morros e 32 metros de altura contando a partir do leito do Rio Santana, que passa por baixo do seu arco, foi construído em 1897 pela Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil e passou a ser da Estrada de Ferro Central do Brasil em 1903 como parte da famosa Linha Auxiliar. Futuramente a linha entrou para a RFFSA e nesse trecho era comum a passagem de um famosos trem turístico, o trem Azul, o qual deixo esse panfleto da época de gestão da RFFSA.




  O viaduto era um dos pontos chave da viagem, como era uma composição de apenas três carros era possível deixar os mesmos por cima do viaduto por completo, imagina a vista e sensação do passageiro ao da janela do trem ter uma vista como essa? Os morros ao redor, o Rio Santana passando por baixo, devia ser um passeio inesquecível, queria eu estar vivo nessa época para andar no Trem Azul.

  Agora, caro leitor, peço-lhe atenção para um detalhe na imagem de satélite, sobretudo para a disposição da linha, se você reparar o Viaduto é o ponto mais extremo da linha naquela região, a ferrovia vai até ele atravessa o viaduto e volta do outro lado do rio e subindo para o Lago Javary, e logo em seguida alcançando o centro da cidade de Miguel Pereira, mas então pra quê ir e voltar?

  Isso vem da configuração da linha desenhada por Paulo de Frontin, engenheiro responsável por esta ferrovia e homenageado no viaduto. A linha foi feita eita para obedecer um raio de curva de mínimo de 100 m e ter o mínimo de pontes, pra quem não sabe, nas ferrovias uma curva é medida em raio, então pense a curva como um arco de circunferência, e se essa circunferência for completada, seu raio deve atender as medidas padrões da ferrovia e dos veículos que transitarão por ela, quanto maior o raio melhor, trens não gostam de curvas, isso é fato, quanto mais fechada a curva mais lento o trem precisa ir. Outra questão que afeta é a rampa, ou seja, inclinação da via férrea, para subir um morro o ideal é que a via o tangencie com o grau de inclinação mais baixo, assim o trem terá mais facilidade para subir. 

  Munido destas informações, entende-se o porque de a ferrovia dar esta volta no vale desta região, assim os raios de curva seriam respeitados, apenas uma ponte seria construída e o trem tangenciaria as encostas da maneira mais eficiente. (leitores e engenheiros, se eu escrevi alguma besteira, corrijam-me!) 

Agora vamos em fim a expedição em si e as fotos que tirei de lá:

Adentrado pela mata adjacente é possível ter essa vista oposta da ponte, a maioria das fotos é do lado outro lado. Na Placa está escrito: "Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil - 1897"

Sentido da linha em direção ao Rio de Janeiro, não fui naquela direção pois não estava com vestimentas apropriadas.

Trilhos que resistem ao tempo.

A parte alta do Viaduto e sua curva característica, que só pode ser notada de cima dele.


Uma placa localizada alguns metros antes do Viaduto, seria uma indicação de Quilometragem? Aviso sobre a curva do Viaduto? Não sei, sua informação foi levada pelo tempo...

  Bem, as fotos podiam parar por aí, a vista de cima da ponte, os trilhos, tudo legal, mas algo dentro de mim pedia para eu ir do outro lado do viaduto e atravessa-lo pelo acesso de concreto lateral, então eu fui. Só não sabia que as placas estavam soltas, quase joguei uma lá de cima com a minha pisada, tirei o pé na hora certa, depois dali fui me equilibrando na barra de contenção (que não estava muito segura) e pisando na viga de sustentação lateral, e graças a isso consegui mais algumas fotos.

Vista do lado direito do viaduto

Os pés Nº 47 de seu autor que quase não cabiam na largura da viga lateral.

Sentido Miguel Pereira

Um terço do caminho completado.

Detalhe a estrutura do arco em contraste com o Rio Santana.

Um terço do caminho, sentido Miguel Pereira


A grande de proteção já teve seus dias de glória...

Parte Central do Arco e a placa de concreto que eu pisei.

Detalhe da outra porção do arco.

Este que vos escreve, tentando tirar uma foto: "Natural"

Vista do lado esquerdo.

Finalmente, o outro lado do viaduto!!






 Voltar foi mais fácil do que ir, mas o medo de cair ainda batia, mas ocorreu tudo bem e eu consegui esse registro, alias falta registro desse viaduto, uma obra tão magnífica e imponente como essa e tão pouco lembrada e registrada.

  Mas e o Viaduto Paulo de Frontin hoje?


  Bem, ele está lá, lutando contra o tempo e a corrosão, mas segue firme e forte, creio eu que poucas reformas seriam necessárias, maiores alterações seriam feitas em âmbito estético e para a proteção da estrutura metálica. Além de ele estar ali simplesmente e fazer parte do cotidiano dos moradores locais a estrutura é utilizada para a pratica de rapel por algumas pessoas de passagem pelo local.

  Para finalizar, deixo-lhes mais estas imagens do Viaduto em planos mais gerais, não encontrei imagens antigas dele.







16 comentários:

  1. Excelente postagem, sempre quis chegar nesse viaduto, mas toda vez que me programava para ir, algo não deixava. Vlw Hugo pelas fotos e comentários. Aguardando ansioso pela próxima...

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    1. POR QUE NÃO CONSERVAR E PRESERVAR UMA OBRA TÃO LINDA COMO ESSA. CADÊ A EMBRATUR E A ANTT, PARA RESTAURAR E TIVAR O TRECHO PARA FINS TURISTICO?

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  2. Cheguei perto desse viaduto por uma estrada que passa embaixo dele. Realmente é uma obra belíssima e que pelo visto será corroída pelo tempo. Gosto das suas postagens.Chegar ao local a pé é bem interessante. quero poder fazer isso também.

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  3. Oi, Hugo!
    Preciso dos seus contatos (e-mail, facebook, telefones)... gostaria de conversar contigo pessoalmente.
    Assim q puder, retorne!
    Abraço!
    Adriana

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  4. Meu e-mail: nniandra@yahoo.com.br

    Abraço,
    Adriana

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  5. Estive nesta ponte com meu namorado e ficamos apaixonados, atualmente é possível chegar na parte de baixo da mesma até de ônibus. Pena que ela e outras belezas de Miguel Pereira não sejam bem divulgadas. Chegamos a ela por acaso no caminho para uma cachoeira que também não é muito valorizada nem pelo poder público, nem pelo os taxistas locais. Deixo aqui meu agradecimento para o Sr. Edson o taxista que nos levou a esses tesouros.

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  6. Oi Hugo ! Parabéns pelo magnífico blog. Sou um apaixonado por essa região onde estive em 2010 com minha namorada e atual esposa e visitamos este trecho da antiga linha férrea. Gostaria de entrar em contato com vc para eu poder colher maiores dados sobre a região e esta linha ferroviária para que eu possa desenvolver minha monografia do meu curso de Geografia pela Uerj. Meu email é: aledurso@hotmail.com. Parabéns . Alexandre Durso

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  7. muito lindo ! Hugo você estar de parabéns.

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  8. muito lindo ! Hugo você estar de parabéns.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Hugo ; PARABÉNS, não seria a expressão correta para , excelente ! Magnifica sua expedição, e o fato de você SOMÁ-LA conosco, mostra a sua sensibilidade, precisamos de pessoas como você, para tentar salvar aquilo que ainda é possível. Esta sua exploração pesquisa deveria ter sido acompanhada de alguns LIDERES E ANALISTAS GOVERNAMENTAIS, responsáveis por TRANSPORTES, AMBIENTALISTAS e assim mostrar à eles que ainda se pode reconstruir o que o BRASIL já teve de melhor, é doído ver coisas tão lindas como esta e saber que estão ESQUECIDAS por nossos DIRIGENTES. Quem sabe sensibiliza-los de que essa tal mudança de postura com nossas estrada férreas são nada mais nada menos muito mais perniciosas . Pelo menos você GANHOU muito com vossa EXPEDIÇÃO, até porque, agora quando ouvires de alguém mais VIVIDO a expressão que o “” PROGRESSO QUASE SEMPRE É UM RETROCESSO ””, você terá de questionar a si mesmo se é de FATO é UM FATO REAL...? Obrigado por esta MARAVILHOSA EXPERIÊNCIA. Vale lembrar que quando nos dizem que já foram agraciados com a vida mais longa que o mundo era MELHOR, sempre dizem , estamos mais livres, libertos ou somos mais escravos ? Questionemos e façamos ALGO ? Abraços... Rogério gomes..

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  12. Hugo ; PARABÉNS, não seria a expressão correta para , excelente ! Magnifica sua expedição, e o fato de você SOMÁ-LA conosco, mostra a sua sensibilidade, precisamos de pessoas como você, para tentar salvar aquilo que ainda é possível. Esta sua exploração pesquisa deveria ter sido acompanhada de alguns LIDERES E ANALISTAS GOVERNAMENTAIS, responsáveis por TRANSPORTES, AMBIENTALISTAS e assim mostrar à eles que ainda se pode reconstruir o que o BRASIL já teve de melhor, é doído ver coisas tão lindas como esta e saber que estão ESQUECIDAS por nossos DIRIGENTES. Quem sabe sensibiliza-los de que essa tal mudança de postura com nossas estrada férreas são nada mais nada menos muito mais perniciosas . Pelo menos você GANHOU muito com vossa EXPEDIÇÃO, até porque, agora quando ouvires de alguém mais VIVIDO a expressão que o “” PROGRESSO QUASE SEMPRE É UM RETROCESSO ””, você terá de questionar a si mesmo se é de FATO é UM FATO REAL...? Obrigado por esta MARAVILHOSA EXPERIÊNCIA. Vale lembrar que quando nos dizem que já foram agraciados com a vida mais longa que o mundo era MELHOR, sempre dizem , estamos mais livres, libertos ou somos mais escravos ? Questionemos e façamos ALGO ? Abraços... Rogério gomes..

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  13. Estive embaixo e registrei também essa obra de arte quando ainda passava os trens,1993, doi na alma ver que tudo isso está sendo consumido pelo tempo,uma das locomotivas que fotografei ai, está em Campinas na ABPF de numero 1170, tinha um museu em MIGUEL PEREIRA, com muiitos utensílios, gostaria de saber que fim levou......

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  14. Sr. Hugo simplesmente fantástico, me emocionei ao ver as imagens e me lembrar da década de 1970 quando então saia de Arcadia para ir a Miguel Pereira, ou de Arcadia para Japeri ou Conrado onde estudava. Q pena q tudo isso acabou!!! Como disse o Junior Batista no comentário anterior "doi na alma ver tudo isso sendo consumido pelo tempo" Sr Hugo obrigado pelas postagens, q DEUS continue te iluminando e preservando a sua coragem, pois imagino q toda essa região seja muito abitada por animais selvagens tipo: serpentes, onças, escorpiões e etc. Um forte abraço amigo INALDO ARANTES

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  15. Parabéns !!! Precisamos sim lutar pela preservação de nossas histórias.

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